Resumo: A ocupação de terras baixas no Vale do Paraíba degradou áreas inundáveis comprometendo a função ecológica e produtiva. Pesquisas aplicadas em Pindamonhangaba/SP transformaram plantios de Guanandi - Calophyllum brasiliense (Calophyllaceae) em sistemas agroflorestais – SAF, para diversificar a renda e reabilitar o ambiente, como referência de restauração ecológica. Os estudos iniciados em 2011 abrangeram a caracterização do guanandi plantado em 2007 (3 x 3 m) na várzea, com maior quantidade de raízes superficiais em comparação ao terraço (3 x 2 m). Experimentos em cada ambiente abrangeram três tratamentos: 1. Guanandi (plantio puro); 2. Saf Simples, com culturas anuais nas entrelinhas do guanandi e 3. Saf Biodiverso, com as mesmas anuais, bananeira, juçara Euterpe edulis e diversidade de arbóreas nas entrelinhas. O delineamento foi em blocos ao acaso com oito repetições em cada local. A classificação dos solos registrou na parte alta dos terraços Cambissolo e Planossolo na zona ripária, com boa fertilidade, porém arenosos suscetíveis à seca. Na várzea predominam solos distróficos variando entre Cambissolo, Planossolo, Argissolo e Gleissolo, com variação errática de constituintes em profundidade e a ferrólise por ciclos de inundação e seca. No terraço, a mandioca ‘Ouro’ Manihot esculenta não diferiu entre os Saf e produziu 7,6 t/ha de fitomassa, sendo 6,3 t/ha de raízes e 3 t/ha de resíduos. O guandu Cajanus cajan aportou em intervalo de 90 dias, 7,7 t/ha de massa fresca (3,5 t/ha MS), 1,3 t/ha de lenha e 210 kg/ha de grãos no Saf Biodiverso. A araruta Maranta arundinacea em rotação foi superior no Saf Simples (7,6 t/ha de rizomas e 15 t/ha de parte aérea) e habilitou-se como espontânea, sem diferir do replantio, competindo com a braquiária. Apesar da baixa produtividade devido à seca, obteve-se 2,5 t/ha de rizomas e 4 t/ha de parte aérea (0,8 t/ha MS) no Saf Simples. A produção de bananas foi de 21 t/ha (25 kg/cacho), incrementou a 25 t/ha (30 kg/cacho), acumulou 39 t/ha de resíduos (3 t/ha MS) e 53 t/ha (4 t/ha) no segundo ano, distribuídos no entorno de juçara; obtendo-se 3.527 brotos/ha aptos para a expansão do Saf. O pico de colheita (633 dias após o plantio) passou a 989 dap, reduzindo o número de folhas (14 para 10) e incremento da circunferência a altura do solo CAS (81 para 92 cm) na segunda safra. A taxa de sobrevivência das arbóreas foi superior a 69 % para 11 espécies, obtendo-se maiores alturas (600 - 345 cm) de capixingui Croton floribundus, mamica-de-porca Zanthoxylum rhoifolium, guapuruvú Schizolobium parahyba, imbirussú Pseudobombax grandiflorum, anjico-preto Anadenanthera colubrina e pau-viola Cytharexylum myrianthum. Maiores taxas de crescimento (TCR) foram para guapuruvú (41 %), mamica-de-porca (39 %), pau-viola (35 %) e capixingui (29 %) e menores para talauma Talauma ovata, juçara e ipê-amarelo-do-brejo Handroanthus umbellatus. As espécies com maior frequência de poda (> 86 %) foram anjico-preto, mamica-de-porca, aroeira Schinnus therebintifolius, urucum Bixa orellana e capixingui, obtendo-se 2,8 t/ha de folhas e 2,5 t/ha de lenha, sendo que o capixingui acumulou 14,8 kg de folhas e 19 kg de lenha por planta. A juçara apresentou taxa de crescimento relativo TCR de 6,3 % e maior sobrevivência (> 60 %) no terço médio e inferior dos terraços. O rendimento de madeira no desbaste no terraço se relacionou moderadamente ao Ctop (r²=0,57). Na várzea sob inundação a artemísia Artemisia annua declinou, acumulando 302 g/planta de folhas na implantação dos Saf. A leguminosa espontânea ‘Paquinha’ atingiu 305 cm de altura e produziu 21 kg/ha de sementes, sem recolonizar a área na seca. O inhame Colocasia esculenta, em rotação, produziu 9,7 t/ha de rizomas-filho RFi e 5,4 t/ha de rizomas-mãe RMe no Saf Simples, superou o Saf Biodiverso (6,2 t/ha RFi, 2,3 t/ha de RMe); porém, declinou na seca, sem diferenças entre o plantio de RFi e RMe (0,75 t/ha de RFi e 0,8 t/ha de RMe), favorecido no Saf Simples por flemíngia Flemingia macrophylla, que acumulou 8 t/ha de MS na entrelinha de guanandi e 5,47 t/ha na linha com um intervalo de corte de 12 semanas. A bananeira produziu 10,8 t/ha de cachos com 13 kg e 10 pencas comerciais. A seca prolongada reduziu o número de folhas e a colheita foi tardia (864 dap, 20 % finalizando os cachos aos 988 dap). Acumulou 20 t/ha de MF de pseudocaule (3 t/ha de MS) acamados como telha no entorno da juçara, gerando mais 5 t/ha MF (0,5 t/ha de MS) com 4.221 filhotes. Os Saf não prejudicaram o crescimento de guanandi, com incremento da CAS em 2014 no Saf Simples no terraço, com tendências de vantagens em altura nos Saf Simples e menor amplitude das avaliações no Saf Biodiverso. A TCR baixa (2,8 %) indica que o guanandi é uma espécie de lento crescimento, favorável para o Saf e com melhor adaptação nas terras baixas, porém, não muito próximo ao ribeirão, parecendo preferir solos menos argilosos e mais férteis do terraço. Na várzea o guanandi atingiu 533 cm de altura com baixa TCR, pouco mais elevada nos Saf com menor amplitude no Saf Biodiverso. Dentre as florestais, a sesbânia produziu em 2012 1,2 t/ha de MF (0,5 t/ha MS) e 0,7 t/ha (0,3 t/ha MS), em 2013. A taxa de sobrevivência foi de 71 % nas entrelinhas e 61 % nas linhas de guanandi; situada acima de 69 % para 12 espécies, com destaque para urucum, ipê-rosa Handroanthus impetiginosus, ingá-mirim Inga vera, imbirussú, talauma, pau-viola, aroeira e anjico-preto. A juçara apresentou 77 % de sobrevivência nas entrelinhas e 27 % na linha de guanandi. Maiores TCR em altura foram de guapuruvú, pau-viola, aroeira, ingá-mirim e ipê rosa e TCR da CAS (19 %) em guapuruvú, paineira Ceiba speciosa e capixingui. As menores TCR foram para juçara, ipê-amarelo-do-brejo e talauma, tardias. Os maiores valores de raio da copa (Rcopa) foram para aroeira, ingá-mirim e pau-viola, aportando 8,4 t/ha de MF (4,8 t/ha MS) de folhas e 5,4 t/ha de MF de lenha (2,8 t/ha MF); 70 % do material acumulado por sesbânia e aroeira. O Saf Simples representou uma possibilidade de sistematização dos plantios de guanandi com cultivo anual e baixo input energético. No Saf Biodiverso, obtêm-se produtos diversificados no tempo (frutos da bananeira, polpa de juçara, culturas anuais extensivas e diversidade de madeiras nativas). Os impactos dos Saf foram positivos para o ambiente e a gestão da Fazenda Coruputuba, confirmados com os métodos APOIA-NovoRural e Ambitec-Agro, com índice de sustentabilidade elevado (0,79).